Réplica e Tréplica ao Curso Básico Anti-Preconceito contra as motos

Recebi esta réplica ao meu artigo Curso Básico Anti-preconceito contra as motos. Achei interessante e resolvi postar.

Adicione uma lei científica e uma pergunta minha baseada em minha experiência diária e depois repasse:
Lei: A gravidade não se importa com habilidade, prudência ou respeito às leis humanas. A probabilidade de você se acidentar em uma moto é de, no mínimo 50%, maior que um carro, por um motivo óbvio: ela tem duas rodas a menos e as duas que sobraram estão EM LINHA, ou seja, tudo depende do equilíbrio do “motorista – Condutor de qualquer veículo de tração mecânica. – Dicionário Aurélio”, levemos em conta ainda, a questão da proteção. Um carro tem, normalmente, dois parachoques de segurança, lataria, CINTO DE SEGURANÇA, um bloco de motor à frente do motorista, em muitos casos, airbag e barras de segurança. Em uma motocicleta, além de duas rodas em linha, o centro de massa do conjunto veículo-motorista é totalmente alienígena, em qualquer teste de impacto a tendência do MOTORISTA é ser arremessado na direção antípoda à do freio brusco ou da obstrução que ocasione a queda, some-se aí a questão da massa x velocidade. Até o Hulk cai, além do que existe um TANQUE CHEIO DE GASOLINA entre suas pernas, fato científico. A melhor proteção do motorista de moto é o capacete, o qual de vez por outra é levado para passear no cotovelo do motorista. Sabemos que o ser humano, indubitavelmente é falho e, segundo Murphy, quando as coisas acontecem, tendem a ser pior que se imagina.
Quanto ao famigerado corredor: o Brasil é um país cuja a insipidez de seu paramento legal é notório: quantas e quantas leis absurdas e passíveis de “pega ou não” nós possuímos? Bem, se o corredor é liberado por “lei” o que diria então o pedestre que atravessa a rua entre um ônibus e um carro e não pode ver o “corredor” ou quem viria nele? Ou será que a maioria dos motoristas de moto pára logo da aparição do sinal vermelho? Penso que não, afinal, em qualquer sinal de trânsito, o lugar mais fácil de se ver um MOTORISTA(OLHA O AURÉLIO, HEIM?) de motocicleta em um sinal vermelho é na faixa de pedestre ou próximo a ela? Bem, continuemos pensando neste bendito corredor, enquanto isso estou atrás de pintar a lateral do meu carro e remover pequenos amassados difíceis de perceber em trânsito, pois geramente são provocados pelo conhecido movimento de “gingada”, seja em um corredor apertado, seja em um corredor largo, pois persiste a idéia de agilidade=velocidade(chegar cedo em qualquer lugar é o máximo!!).
Por que será que, quando volto do trabalho, diariamente na mesma rua de mão única, geralmente ocorre de haver a proporção de 4 motoristas de moto na contra-mão para cada 1 carro(SIM, MOTORISTA EM FORTALEZA É QUASE TUDO RUIM, SEJA DE CARRO, MOTO OU AVIÃO!!) em cada semana? Deve ser porque é um veículo menor e por isso mais ágil(vou aqui pelo cantinho e ninguém vai nem perceber, hehehe…).
Ah, Junim… Não posso evitar: tenha cuidado com a gravidade, com a areia no asfalto, com a chuva, com os corredores, com os carros, com os pedestres, com as outras motocicletas…. Como um motoboy amigo meu costuma a dizer: O PARACHOQUE É OS TEUS “PEITO”

Eu, como autor do texto original “Curso Básico Anti-preconceito contra as motos”, recebi esta resposta do leitor “Junior”, que recebeu a resposta de algum conhecido ao enviar este texto por e-mail, e então me repassou. Primeiramente devo dizer que respeito muito o ponto de vista do autor, e que o que eu queria mesmo era isso: fomentar a discussão e a argumentação de diferentes pontos de vista, pois acredito que esta é a melhor forma de desenvolver uma idéia. Porém, acredito também que tenho direito à tréplica, afinal, percebo que alguns dos pontos abordados pelo autor não contem um dos principais motivos pelo qual deve-se andar de moto: A paixão.

O ato de dirigir uma moto é “normal”, afinal, você pode dirigir qualquer coisa, uma moto, um carro, um avião, um filme, uma empresa… Porém, perceba que em todos estes exemplos (exceto a moto), você dirige baseado em comandos, ou seja, comanda os pedais e o volante do carro, comanda as pessoas que estão filmando, comanda as pessoas que estão trabalhando. Na moto, além de comandar os pedais, manetes e guidão, você faz parte do funcionamento da moto, seu peso influencia no comportamento da moto. A forma como direciona seu peso muda a forma como a moto fará a curva. Em alguns casos, você, na condição de condutor da moto, usa sua força física para mudar o rumo ou até mesmo segura-la caso se comporte de forma inesperada.

A pessoa que dirige uma moto geralmente não gosta de se colocar ao lado de alguém que dirige um carro, pois a direção de um carro é algo “simples”, algo que não tem alma, não há paixão nisso. O carro é um veículo de carga e de transporte de pessoas, e na maioria das vezes, está ocupado apenas por uma única pessoa que está indo de um ponto A específico a um ponto B específico. Você nunca vai ver, por exemplo, alguém que sai de casa com seu carro sem nem mesmo saber para onde está indo. O carro é um meio de transporte e só. Não há paixão nisso.

Já a moto é um veículo de prazer. Além de levar e trazer, ela serve de terapia a quem pilota. Pilotar uma moto é uma atividade prazerosa, é algo que se faz quando se quer relaxar. Algumas pessoas vão ao cinema, outras, andam de moto.

A condução técnica que a moto exige faz com que seu condutor não queira ser chamado simplesmente de “motorista”. Ele quer mais, ele quer ter sua identidade diferenciada, e isso vai muito além do que um dicionário idiota determina. O Piloto de motos gosta de ser um piloto. Não um motorista.

O piloto que gosta de pilotar também gosta de preservar sua própria vida, afinal, ele gosta de pilotar e quer faze-lo muitas vezes. Ele certamente não colocará sua vida em risco e fazer desta viagem a sua última. O piloto nunca faz sua última viagem. Portanto, o piloto gosta de usar os equipamentos de proteção, que são capacete, jaqueta, calça, botas e luvas.

Não é só em Fortaleza que os motociclistas andam sem capacete e sem equipamentos. Aqui em São Paulo também fazem isso, aqui o capacete também é usado no cotovelo, ou no espelho da moto (quando a moto tem espelhos). Porém, para este tipo de motociclista o futuro é um só: a morte. Ele não sabe ter o prazer que tem. Ele não respeita a moto, não respeita a si mesmo, e por isso está fadado a tragédia. Mas devemos lembrar que não existe apenas este tipo de motociclista, e que existe muita gente consciente nas ruas, pilotando com prudência e técnica, com equipamentos de proteção e respeito ao próximo. E o objetivo principal do meu primeiro texto é justamente este: Mostras que quem está ali em cima das duas rodas é uma pessoa, e não um criminoso suicida.

A moto possui apenas duas rodas, que são mais do que suficientes para a atividade proposta. Já existem protótipos de motos com apenas uma roda. O fato de ter menos rodas que um carro não torna as motos mais perigosas, tornam-nas apenas menores. Pessoas conscientes não precisam de quatro rodas, nem de lataria. Só precisam de prudência. A moto tem a vantagem de ser menor, mais rápida, mais leve, mais econômica e mais barata. Se o condutor souber tirar proveito disso, só existem vantagens.

O tanque de gasolina das motos geralmente fica entre as pernas do piloto, geralmente é feito de metal e é muito resistente. Tanto é que nunca ouvi falar de tanques que explodiram ou motos que se incendiaram em acidentes. Simplesmente não acontece.

A lei protege o cidadão de bem. Se o sujeito fura o sinal vermelho, de moto ou de carro, ou pára na faixa de pedestres, então é um infrator. Certamente será multado e sofrerá as conseqüências. Se ele não for, cabe aos cidadãos de bem cobrar seu governo. Mas é difícil não é? Ninguém corre atrás de seus direitos, prefere resolver tudo na rua mesmo. É por isso que existem tantos infratores. O governo não fiscaliza, ninguém cobra, e está tudo certo. O mesmo acontece com nós mesmos. O motociclista danificou seu carro e você não cobrou o prejuízo dele… Prefere assumir o prejuízo e pagar do próprio bolso, afinal, correr atrás dele é mais difícil. A preguiça é mais forte que a vontade de mudar a situação. Esta semana mesmo aconteceu algo comigo que vale comentar. Um motoboy se atravessou no corredor enquanto eu passava por ele, e eu acabei atingindo ele. Ninguém caiu, porém, a mangueira de freio dianteira da minha moto foi danificada e eu tive de troca-la. A roda dianteira dele também foi afetada, entortou de tal modo que ele não conseguia mais ir embora rodando. Mesmo assim, cobrei os 180 reais dele, afinal, ele era o culpado. No começo ele não queria pagar, achou que eu estava errado, mas depois que fiz o BO ele prontamente pagou o prejuízo e ainda assumiu o prejuízo na moto dele.

Será que eu devia ter aliviado? Pensei “mas ele é um coitadinho, estava trabalhando… motinha velha e barata… acho que vou aliviar”. NÃO! É por isso que estamos assim: Os coitadinhos sempre recebendo perdão e cometendo os mesmos erros, e os cidadãos de bem pagando a conta.

É claro que o Junim tem cuidado com todos os aspectos relacionados a pilotagem da moto, como gravidade, areia, chuva, outras motos e carros, pedestres, meteoritos e qualquer coisa que possa cair do céu ou brotar do chão para atrapalhar. Ele gosta da moto, usa com respeito e responsabilidade, portanto, não há o que temer. Você não precisa dizer isso a ele e nem a qualquer piloto consciente, ele já sabe disso e não liga para o que você diz (assim como falei no texto original). Quanto aos outros, também não é necessário dizer, pois não vão te ouvir. Darwin demonstra muito bem isso.

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