Como eu comecei no mundo das motos

Pra que não conhece, SP está cada vez mais infernal. 1:20 pra chegar no trabalho de manha, 2 horas pra voltar para casa de tarde. São 13Km de distancia entre os dois locais, o que tecnicamente nem é muito. Foi aí que a história toda começou.

Típico dia em São Paulo. Transito completamente parado, mais de 150Km de congestionamento na cidade e tudo travado na avenida Sumaré. Só carros e mais carros à frente, um calor infernal. Olho para o lado, vejo a motovia – faixa exclusiva para motos, completamente livre. Penso por um instante que seria bom estar de moto e escapar do transito. Mas não, não, moto é perigosa, prego de caixão. Eu jamais vou ter uma moto.

Os dias foram passando, o transito cada vez pior e uma série de “mas” vinham a minha cabeça. O perigo, os acidentes, a guerra com a família – que certamente seria contra. Cansado de tanta especulação mental, apaguei tudo isso da mente e decidi: Vou me matricular numa auto-escola e ver como é. Se eu gostar, ótimo. Se achar perigoso demais, o prejuízo não será grande.

Alguns meses se passam, exames e mais exames, chega o dia da primeira aula.

– Já dirigiu moto alguma vez? – me pergunta o instrutor.
– Não, nunca.
– E bicicleta, sabe andar?
– Sim, sei.
– Então já é um começo. Sabe como funciona uma moto?
– Mais ou menos, respondi. Sei que a primeira é pra baixo, o resto pra cima, na esquerda a embreagem e na direita freio dianteiro.
– Ok, pega a azulzinha ali e pode dar umas voltas.
– Beleza.

O capacete emprestado abafava praticamente todo o som de fora, dava pra ouvir bem pouco além do motor. Subi na moto, apertei ambos os manetes, engatei a primeira e ouvi um “clunk”. Durante alguns segundos fiquei imóvel. Este pequeno som de engrenagens se encaixando
me fez repensar tudo novamente: A unica coisa que eu ouvia era a voz na minha cabeça. “Quer saber – pensei comigo, é agora”. Soltei a embreagem, acelerei um pouco e saí.

De repente todo o peso da dúvida foi embora. Acelerei mais um pouco e a moto se equilibrou sozinha. Foi como se o som e tudo mais voltasse. Abri a viseira, senti um vento no rosto. Ah, aquilo era bom, como era bom. Em poucos minutos estava familiarizado com a moto, fazendo curvas, tombando e trocando marchas.

Aproveitei cada minuto das 15 aulas e algumas semanas depois tirei minha habilitação. Comprei uma moto e ao sair da concessionária, o “clunk” da primeira marcha – agora da minha primeira moto, me deu a mesma sensação de antes. Tinha a conciencia de que a Auto Escola não forma condutores, apenas auxilia no processo de habilitação. O objetivo agora era andar bastante nos horários de pouco movimento até pegar prática. E isso nos traz ao dia de hoje, o primeiro transito.

É sexta-feira. Levanto cedo como de costume, mas dessa vez não pego a chave do carro. Ao invés, visto a jaqueta e mochila. Vou para o estacionamento, retiro a capa da moto. Após pedir a Deus que me leve e traga em segurança, saio em direção ao trabalho.

Vim no transito com o máximo de atenção, observando tudo e dirigindo por mim e pelos outros. Observava os rostos dos outros motoristas parados no congestionamento e não pude deixar de notar os rostos estressados. Penso comigo que, provavelmente, até ontem eu estava na mesma situação.

Andar de moto é perigoso? Sim, de certa forma. No entanto, os riscos são diretamente ligados à responsabilidade do condutor. Imprudencia não é uma opção e cabe a você, que esta guiando, mitigar possíveis riscos. E pensar que tudo isso começou com uma ideia para escapar do transito.

É, cabeça de motociclista, agente não entende.

Thiago Guedes é analista de sistemas e especialista em Internet, e escreveu este depoimento. Parabéns pela conquista da sua liberdade Thiago!

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